Carta para um professor

Tenho um aluno muito carente, que sofre muito com a falta dos pais. Ele vive com uma avó e os pais são separados. Ele é retraído e gosta muito da mãe. Passou as férias com ela e voltou muito triste. Quando fala nela, ele chora. A mãe dele tem outro marido e outros filhos. Ele é um bom aluno mas isso afeta a aprendizagem dele. A ausência dos pais é algo que me preocupa e chega a me doer o coração. Como posso ajudar este aluno?

– P. A., Joinville


Colega, imagino como se sente e dá pra perceber o quanto você gosta da criança e se preocupa com o menino.

A pedagogia sistêmica nos mostra que nós, educadores, apenas cuidamos um pouco, por um tempo, dos filhos de outros pais. Sempre sou grata a cada pai e a cada mãe que me permite estar um pouco com seu filho. E nós não poderemos nunca tomar o lugar destes pais… mesmo que julgarmos que eles não são os melhores para aquela criança.

Muitas vezes nos colocamos assim: julgamos que aqueles pais poderiam ser melhores. E quando vemos isso assim, causamos mais sofrimento para a criança! Pois toda criança ama seus pais. Sejam como forem… o filho ama profundamente os dois! E quando os pais se separam, o filho fica dividido ao meio. Por isso, cabe a nós, professores, olharmos com amor as crianças e vermos nela os dois pais! 

Olhe para seu aluno: ele tem traços do pai e da mãe. E não pode ser diferente disso! Você pode ate dizer a ele: “Seus pais estão morando em cidades diferentes, mas dentro de você eles estão  juntos. Dentro de você eles nunca se separaram.”

Precisamos compreender que os pais são certos e únicos para cada criança. Pois se não fossem estes pais, não seria este filho. 

Como adultos nós sabemos que um homem e uma mulher podem se separar. Mas também sabemos que nos filhos eles permanecem para sempre. Diga isso ao seu pequeno aluno e você vai ver os olhos dele brilharem! Diga que você respeita o pai e a mãe dele. E que você vê os dois nele – e se alegra com isso! Diga que por onde for, ele carrega o pai e a mãe! 

Pode até dizer que os adultos são complicados, que a gente não pode saber o quanto está sendo difícil para a mamãe ficar longe dele, o quanto está difícil para o pai que não sabe bem o que fazer. 

E diga também: “Mas eles já fizeram tanto! Fizeram VOCÊ! E eu agradeço aos teus pais porque você é como é. Um menino esperto, que consegue resolver as tarefas, que se tornou muito forte mesmo com as dificuldades que está passando. E sabe de onde vem esta força? Esta inteligência? Estes talentos? Tudo isso vem do seu pai e de sua mãe!” 

E então, colega,  quando você olhar para o menino, “veja” atrás dele o pai e a mãe. Mesmo que você não os conheça. Eles estão ali. Eles são os pais. E você os respeita profundamente… com todas as dificuldades que eles têm.