Em 1999, Bert Hellinger concedeu no Chile uma entrevista a Humberto del Pozo, diretor do Centro Bert Hellinger de Constelaciones Familiares de Chile, respondendo às principais questões sobre como funcionam as constelações familiares. 

1. Você faz poucas perguntas ao cliente antes da constelação. Por quê? Como é possível fazer a constelação assim?
A percepção é mais aguçada apenas com informações essenciais, como por exemplo se há algum membro natimorto da família, alguém que tenha morrido cedo ou um relacionamento anterior significativo dos pais ou avós. Qualquer outro questionamento impede as informações fenomenológicas que emergem. Esta é a razão pela qual o constelador se recusa a ter qualquer conversa com o cliente ou a fazer qualquer questionamento antes da constelação.

2. O que é a consciência familiar?
Os membros de uma família são movidos por um princípio ou força em comum, e eu chamo isso de consciência familiar. É o impulso inconsciente para se comportar de uma determinada maneira. Se um membro do sistema familiar foi excluído, como por exemplo uma criança que morreu cedo e não é mais contada entre os irmãos, então em uma próxima geração outro membro assume o mesmo destino daquela criança. Esta pessoa quer morrer sem ninguém saber por quê.

3. Quem pertence ao sistema familiar?
– As crianças, incluindo natimortas e que morreram cedo
– Os pais e seus irmãos
– Os avós
– Às vezes um dos bisavós ou ancestral mais distante
– Pessoas que não são parentes mas através das quais quem foi citado acima teve ganhos, como ex-parceiros de pais ou avós que não foram respeitados e pessoas de quem a morte ou o esforço trouxe vantagens à família
– Vítimas de assassinato por qualquer membro da família

4. Você pode compartilhar conosco algumas de suas experiências sobre ex-parceiros?
Por exemplo: uma ex-esposa do pai, do qual ele se separou sem respeitá-la. A nova esposa tem uma vantagem porque a outra sofreu uma perda, então esta pertence ao sistema familiar e será sempre representada. Uma das filhas da nova esposa se sentirá como a primeira esposa. Ela terá raiva do pai e ninguém saberá por quê. Esta é uma das leis para as quais não vi exceção.

5. Você pode nos dar exemplos sobre aqueles cujo esforço ou morte trouxe vantagem ou ganho à família?
Em constelações com descendentes de quem adquiriu grande riqueza é notável os destinos difíceis de netos e bisnetos que não poderiam ser explicados apenas por acontecimentos na família. Quando colocamos representantes para as pessoas que sofreram com a aquisição de esta riqueza, torna-se evidente que seu sacrifício continuou a ter um efeito na família ao longo de várias gerações. O mesmo acontece quando há trabalhadores que morreram durante a construção de uma ferrovia ou na produção de petróleo e cuja contribuição para a prosperidade de seus empregadores não foi reconhecida e honrada.

6. Quais são as questões que melhor respondem à terapia sistêmica?
Certas doenças ameaçadoras, como o câncer, também têm causas sistêmicas. É a dinâmica “Eu sigo você”, que significa que a pessoa deseja seguir um familiar que está doente ou morto, adoecendo ou morrendo também. Ou uma criança que vê alguém em sua família nesta dinâmica e tenta segurá-la, dizendo “É melhor que eu vá em vez de você.” Conhecendo essas dinâmicas fundamentais é possível tirar seu poder e aliviar muito sofrimento e dor. Outros sintomas estão relacionados ao movimento interrompido em direção a um dos pais. Assim, por exemplo, dores no coração ou dores de cabeça são frequentemente expressões de um amor retido, e dores nas costas se desenvolvem em muitas pessoas que se recusam a se curvar profundamente em respeito ao pai ou mãe.

7. Quantas vezes deve se repetir uma constelação?
Não há repetições. A constelação é feita uma vez e um movimento de cura pode começar a operar. Mas não é tão fácil porque se, por exemplo, uma criança quer morrer em vez de seu pai, ela se sente inocente e grande, mas se ela seguir a solução ela se sente pequena e culpada. Então não é algo lógico como consertar um relógio: é preciso apoiar a alma.

Tradução de Marcos Alexandre. Reprodução permitida com crédito para o Boletim CONSTELAR de Marilise Einsfeldt.