Bert Hellinger escreveu mais de 100 livros. Certa vez ele e seu amigo Bernard Munsch passaram alguns dias examinando estes textos a fim de “recolher o essencial do que constitui a postura indispensável à constelação familiar”, como diz Munsch referindo-se aos 17 textos selecionados que compõe o livro O essencial que conta.
Dentre estes 17 textos encontra-se a parábola chamada A adúltera. Reproduzimos este texto no Boletim CONSTELAR de dezembro de 2019 em homenagem ao mestre Bert Hellinger.
Siga um conselho dado no próprio livro e deixe que este texto encontre um lugar em sua alma.
A ADÚLTERA
Certa vez em Jerusalém um homem desceu do Monte das Oliveiras em direção ao templo. Quando penetrou no recinto, alguns eruditos “justos” arrastavam uma jovem mulher. Cercando o homem eles a colocaram diante dele e lhe disseram: “Esta mulher foi apanhada em adultério. Moisés nos ordena na lei que seja apedrejada O que diz você a respeito?”
Na verdade, não estavam interessados na mulher nem na ação dela. O que lhes interessava era preparar uma armadilha para um ajudante que era conhecido por sua brandura. Eles se indignavam com sua indulgência e em nome da lei julgavam-se autorizados a destruir tanto aquela mulher quanto este homem – que nada tinha a ver com a ação dela – caso não compartilhasse da sua indignação.
Vemos diante de nós dois grupos e perpetradores. A um deles pertencia a mulher: era uma adúltera e os indignados a chamavam de pecadora. A outro grupo pertenciam os indignados: por sua intenção eram assassinos, porém chamavam-se justos. Sobre ambos os grupos pesava a mesma lei implacável, com a única diferença de que chamava de injusta uma ação má e de justa uma outra na verdade muito pior.
Porém o homem que tentavam apanhar na armadilha esquivou-se de todos eles: da adúltera, dos assassinos. da lei, do ofício de juiz e da tentação de grandeza. Ele se curvou e começou a escrever com o dedo na areia.
Diante de todos ele curvou-se para a terra.
Quando os indignados não entenderam os sinais que escrevia com o dedo e continuaram a espreitá-lo e pressioná-lo, ele se ergueu e disse: “Quem estiver sem pecado que seja o primeiro a atirar a pedra.” Então curvou-se de novo para a terra e continuou escrevendo na areia.
De repente tudo mudou: pois o coração sabe mais do que a lei lhe permite ou ordena. Os indignados esvaziaram a cena e se retiraram, um depois do outro, começando pelos mais velhos. O homem respeitou a vergonha deles e permaneceu curvado, escrevendo na areia.
Apenas quando todos partiram, ele se ergueu de novo e perguntou à mulher: “Onde estão eles? Ninguém te condenou?” – “Não, senhor”, respondeu ela. Então, como se partilhasse o sentimento dos indignados, ele disse à mulher: “Eu também não te condeno.”