A constelação familiar tem lugar no âmbito judiciário?

No dia 7 de outubro deste ano, o Dr. Sami Storch, juiz criador do direito sistêmico, publicou em seu blog um manifesto a respeito das críticas ao uso das constelações familiares no âmbito judiciário.

Precursor nesta prática, ele fala sobre a existência de projetos desenvolvidos desde 2012 e de pesquisas que indicam grande efetividade, com milhares de pessoas atendidas e satisfeitas com os resultados: o índice de conciliações supera os 90% e são raros os casos de recursos ou novos processos.

Isso acontece porque a constelação familiar permite a observação das dinâmicas ocultas que realmente estão por trás dos conflitos entre pessoas. Quando tais dinâmicas são reveladas, então é possível que os envolvidos cheguem a uma solução eficaz para todos.

Porém isso somente pode acontecer se a constelação for feita da forma proposta originalmente por Bert Hellinger, de acordo com as Ordens da Ajuda e sem dogmas, ideologias ou imposição de interesses pessoais.

Com a crescente popularização das constelações familiares nos últimos anos, surgiram diversos cursos e “consteladores” de qualidade duvidosa, cujos procedimentos não condizem com o que a constelação familiar é realmente.  

Muitas pessoas não procuram saber a verdade e se expõem a este tipo de trabalho inadequado. E é claro que a realização de práticas abusivas aplicadas por “profissionais” despreparados realmente é capaz de prejudicar. Quem vê algo desse tipo, critica e ataca a constelação como se ela fosse o que essas pessoas incapazes e muitas vezes mal-intencionadas fazem – mas isso não é a constelação familiar.

A constelação familiar se trata simplesmente de um olhar focado no fenômeno que se mostra em cada situação. Para que isso seja percebido, o constelador precisa de muito conhecimento e experiência – e o seu papel é permitir que cada pessoa encontre a solução por si própria.

A constelação não determina um caminho ou solução a alguém, e muito menos aborda o perdão. Na verdade, a constelação deixa clara a responsabilidade de cada um por seus atos. Em casos de violência e abusos, por exemplo, a constelação não recomenda a convivência de vítimas com agressores nem minimiza a gravidade de um crime. É o contrário: o propósito da constelação familiar é permitir a libertação de dinâmicas de violência e a responsabilização plena do perpetrador reequilibra o sistema.

A constelação familiar também não proclama a superioridade dos homens sobre as mulheres. Novamente, o contrário é verdadeiro: a constelação mostra que quando um se considera superior ao outro, o relacionamento fracassa. Sendo assim, também não existe uma concepção da família de base patriarcal ou heterossexual. Na constelação familiar, respeita-se a dignidade de cada pessoa e da família à qual ela pertence, tal como é e sem julgamentos.

Em seu manifesto, o Dr. Sami diz que condenar as constelações familiares devido a práticas inadequadas de algumas pessoas seria como proibir a prática da medicina por conta de erros médicos, condenar a psicologia pelo despreparo de alguns psicólogos ou abolir a polícia por causa dos policiais que cometem abusos.

É necessário saber diferenciar os profissionais sérios que trabalham com a constelação familiar original, de pessoas inaptas que realizam práticas desconexas às quais dão o nome de constelação.

A verdade é que o uso das constelações familiares no âmbito judiciário se propõe a encontrar a real e mais profunda solução – que não é apenas para uma das partes: ela deve abranger todo o sistema para que todos os envolvidos na questão sejam realmente beneficiados.

Texto de Marcos Alexandre. Reprodução permitida com crédito para o Boletim CONSTELAR de Marilise Einsfeldt.

Assista à live sore este tema